Segunda Guerra Mundial - Birmânia

A Campanha da Birmânia

(14 Dezembro, 1941 - 13 Setembro, 1945)


Setas Vermelhas (Ofensivas Japonesas); Linha Laranja (Limite do Avanço Japonês); Setas Azuis (Ofensivas Aliadas de 1945)

Informações Técnicas:

Facções: Aliados (Inglaterra, China e EUA) x Eixo (Japão e Tailândia).

Forças: Aliados: 1.000.000 homens x Eixo: 316.000 homens.

Perdas: Aliados: 207.000 mortos e feridos x Eixo: 210.000 mortos e feridos.

Resultado: Decisiva Vitória Aliada.

Locais: Birmânia e Índia.

A Invasão Japonesa (1941-1942):

Soldados japoneses em posição para iniciar a invasão da Birmânia. Note-se as montanhas ao fundo. Essa foi uma das campanhas mais difíceis da Segunda Guerra por causa do terreno montanhoso que dominava boa parte da região.

Em Dezembro de 1941, uma enorme força japonesa invadia o sul da Birmânia. Na época, a Birmânia (atual Myanmar) era uma colônia pobre do Império Britânico. Extremamente montanhosa e com mato fechado, a campanha seria uma das mais difíceis da Segunda Guerra para ambos os lados.

Os japoneses logo se depararam com um exército britânico desorganizado e mal-armado para tal invasão. A conquista do sul durou somente alguns dias. Com a captura da capital, Rangoon, os japoneses podiam avançar para a região central e obter o controle dos poços de petróleo que predominavam na área.

Porém, reforços vindos da China e da Índia detiveram a ofensiva japonesa por algumas semanas, até que os poços de petróleo fossem sabotados. Em Março, os japoneses controlavam a zona central da Birmânia e perseguiam o exército inglês até a fronteira da Índia, onde as últimas unidades inglesas e indianas atravessariam a fronteira somente em Maio.

Ao mesmo tempo, a Tailândia invadia a província dos Estados Shan e expulsava os chineses para a província de Yunnan, onde ficariam presos numa longa guerra de atrito até o fim da campanha.

Em Maio, os japoneses alcançaram o norte da Birmânia e estabeleciam seu controle na antiga colônia inglesa. Mas, mesmo derrotados, os ingleses tentariam mais de uma vez expulsar os japoneses da região, para impedir uma inevitável invasão da Índia.


A Primeira Ofensiva do Arakan (1942-1943):

Tropas indianas avançam pelas planícies do Arakan, com o apoio de alguns tanques Stuarts.

Em Dezembro de 1942, Divisões Indianas lançaram uma ofensiva limitada na província do Arakan. Mesmo com algumas montanhas, o Arakan é uma região plana, pantanosa e cheia de pequenas ilhas. Os japoneses só possuíam quatro batalhões de infantaria com alguns canhões de artilharia como apoio.

Nos primeiros dias, os indianos capturaram com sucesso as vilas de Maungdaw e Buthidaung. Com essas rápidas vitórias os indianos correram para capturar Donbaik e Rathedaung, mas os japoneses logo se reagruparam e detiveram a ofensiva.

Em Janeiro de 1943, os ingleses enviaram mais divisões para o Arakan, com o intuito de quebrar o impasse, mas fracassaram. Em Março, reforços japoneses chegaram no Arakan e flanquearam os indianos pelas montanhas. As vilas de Maungdaw e Buthidaung foram retomadas e milhares de soldados indianos acabaram cercados pelos japoneses. Em Abril, o alto-comando britânico ordenou uma retirada, mas os indianos sofreram imensas perdas. Os poucos sobreviventes retornaram desmoralizados e exaustos.


A Primeira Operação Chindit (1943):

Os Chindits atravessando um rio para a Birmânia. Nem metade desses homens que aparecem na foto retornariam dessa primeira missão para casa.

Enquanto os japoneses enfrentavam a ofensiva anglo-indiana no Arakan, uma tropa de elite era despachada para atacar as rotas de suprimentos dos japoneses pelo resto da Birmânia. Essa tropa ficou conhecida como os Chindits.

Era formada por ingleses, australianos, indianos e chineses. Mais de 3.000 homens faziam parte dessa tropa. Seu objetivo: enfraquecer as forças japonesas e facilitar a reconquista da Birmânia. Em Fevereiro de 1943, esses 3.000 homens foram enviados para a retaguarda japonesa e causaram certos estragos no inimigo. Porém, os japoneses logo montaram emboscadas e armadilhas e em Maio somente 1.000 homens, a maioria doentes, retornaram para a Índia.

Mesmo que tenham fracassado em sua missão de enfraquecer os japoneses, os Chindits rapidamente se reagruparam e melhoraram suas táticas de combate contra um inimigo fanático e brutal. Em breve, eles retornariam com força e causariam muito mais estrago no inimigo do que antes.



A Operação HA-GO (1944):

Tanques japoneses se preparam para a ofensiva nipônica no Arakan contra as forças aliadas. A campanha da Birmânia foi a segunda campanha onde os japoneses usaram mais tanques contra os aliados.

Em Janeiro de 1944, os ingleses e indianos lançaram uma segunda ofensiva no Arakan e rapidamente capturaram Maungdaw. Para evitar fazer os mesmos erros na primeira ofensiva, os aliados iriam se manter nessa posição por alguns dias até fortifica-la e então, resumiriam a ofensiva.

Porém, os japoneses decidiram lançar sua própria ofensiva (Operação HA-GO) na região do Arakan numa tentativa de invadir a Índia pelo sul. Com uma divisão de infantaria veterana, com o apoio de 40 tanques, a ofensiva japonesa começou muito bem. Ainda em Janeiro, os japoneses rapidamente cortaram as linhas de suprimentos dos aliados e cercaram a principal base de logística dos ingleses, conhecida como a "Caixa Administrativa".

Porém, os aliados usaram novas táticas para enfrentar os constantes ataques japoneses. Eles construíram casamatas poderosas em volta da base e tinham quase todo o dia forte apoio aéreo vindo da Índia. Os japoneses sofreram imensas perdas em homens e tanques. Sua ofensiva perdeu força e uma horrível batalha de atrito ocorreria até Março. Nesse mês, reforços aliados chegaram na base cercada, romperam as defesas japonesas e os forçaram a recuar mais para dentro do Arakan.

A Batalha pela "Caixa Administrativa" acabou com a primeira tentativa japonesa de invadir a Índia. Porém, uma ofensiva maior e mais complexa ganhava forma mais ao norte.


A Operação U-GO - As Batalhas de Imphal e Kohima (1944):

Infantaria japonesa avança em direção a Imphal, Índia.

Enquanto os japoneses deixavam os ingleses ocupados em Arakan, uma imensa força de 85.000 soldados japoneses, com o apoio de mais de 200 canhões de artilharia, 60 tanques leves e pesados, e uma brigada nacionalista indiana (indianos que apoiavam os japoneses), atravessava a fronteira e invadia a Índia. Era março de 1944, e os japoneses surpreenderam os aliados com essa imensa ofensiva. O objetivo: capturar os campos aéreos de Imphal e Dimapur e neutralizar qualquer ameaça aliada na Birmânia.

Acreditando que boa parte da força aliada estava concentrada no Arakan, os japoneses só levaram 3 semanas de rações, pouca munição para artilharia e nenhum canhão anti-tanque. Essa decisão causaria sérios problemas para os japoneses no futuro.

De início, os japoneses encontraram pouca oposição. Três divisões japonesas (duas de infantaria e uma de tanques) avançavam contra Imphal pelo sul, centro e norte. Mais ao norte de Imphal, uma única divisão (infantaria com artilharia) japonesa avançava contra a vila de Kohima (importante localidade que conectava Imphal com Dimapur) com o objetivo de isolar Imphal e cortar as rotas de suprimentos aliadas.

De Março até Abril, os japoneses capturaram várias posições fortificadas dos aliados e cercaram Imphal e Kohima. Kohima caiu depois de alguns dias de cerco. Porém, Imphal conseguiu resistir aos três ataques japoneses e deteve a ofensiva japonesa.

De Maio até Junho, os aliados começaram a lançar contra-ataques nos japoneses que cercavam Imphal, causando enormes baixas para ambos os lados. Em Kohima, uma tropa indiana, com tanques, pegou de surpresa os japoneses e após uma longa e brutal batalha, retomaram o controle da vila. Com a derrota em Kohima, os japoneses restantes recuaram de volta para a Birmânia. Mas, o cerco de Imphal continuava.

Foi em Julho, que a Batalha de Imphal chegou ao fim quando reforços indianos, vindos de Kohima, romperam o cerco e forçaram os japoneses a recuar para a Birmânia. O resultado final foi desastroso para o Japão: 65.000 mortos e feridos (muitos dos mortos morreram de fome e por doenças), perda total da artilharia e dos tanques, e a brigada nacionalista indiana quase destruída. Os aliados podem até terem vencido tal luta, mas também sofreram horrendas perdas: 23.000 mortos e feridos.

A Operação U-GO foi a maior derrota terrestre do Japão em toda a sua História. Nunca mais o Japão lançaria uma ofensiva contra os aliados. Pelo resto da campanha, os japoneses lutariam na defensiva até a morte.



A Segunda Operação Chindit - A Queda de Myitkyina (1944):

Soldado americano descansa ao lado de uma loja destruída em Myitkyina, norte da Birmânia.

Enquanto os japoneses invadiam a Índia, o comando aliado enviava para o norte da Birmânia uma força de 23.000 Chindits. Essa tropa, reformada e bem mais preparada do que na primeira vez, havia recebido ordens de capturar a base japonesa de Myitkyina. Essa cidade era a principal base logística para a ofensiva japonesa na Índia e também mantinha o limitado apoio aéreo para o avanço japonês. Também era o "portão de entrada" para a famosa "Estrada da Birmânia", essencial para manter viva a resistência chinesa na província de Yunnan.

A ofensiva aliada começou em Março de 1944. Três tropas iriam se convergir em Myitkyina: os Chindits pelo oeste, uma brigada americana pelo norte e uma divisão blindada chinesa pelo leste. Após uma árdua luta pelos vales que acessavam a planície que cercava a cidade, os aliados cercaram Myitkyina em junho e iniciaram um dos cercos mais difíceis da Segunda Guerra.

Enquanto americanos e chineses tentavam superar as defesas japonesas em Myitkyina, os Chindits rumaram mais para o sul para capturar a cidade Mogaung (importante base de comunicações japonesa) com o intuito de isolar Myitkyina. Após semanas de pesados combates, os Chindits capturaram Mogaung.

Com a queda de Mogaung, os japoneses remanescentes em Myitkyina abandonaram a cidade em 1 de Agosto e recuaram para Lashio. Os americanos e chineses só entrariam em Myitkyina em 4 de Agosto após eliminar alguns poucos atiradores japoneses (que haviam sido deixados para trás para atrasar os aliados). Com a captura de Myitkyina, o norte da Birmânia estava livre do controle japonês e a "Estrada da Birmânia" estava aberta para ajudar a China na sua luta pela província de Yunnan. Após essa campanha, os Chindits retornariam para a Índia e seriam dissolvidos.


A Segunda Ofensiva do Arakan (1944-1945):

Tropas indianas avançam com cautela pela planícies pantanosas do Arakan.

Em Dezembro de 1944, tropas indianas, com forte apoio aéreo e de tanques, iniciaram uma segunda ofensiva contra os japoneses em Arakan. O objetivo era de capturar as bases japonesas de Akyab e de Ramree e isolar as duas divisões japonesas que defendiam a região.

Após uma série de avanços em áreas pantanosas e operações anfíbias, os indianos capturaram a Península de Mayu e encontraram Akyab abandonada. Com a captura da base japonesa, os aliados agora possuíam uma forte presença aérea em toda a região.

Em Janeiro de 1945, os indianos desembarcaram na ilha de Ramree. A resistência japonesa se mostrou fanática e brutal. Mas, em Fevereiro, Ramree ficou nas mãos dos indianos. Foi durante essa luta onde mais de 1000 soldados japoneses seriam devorados por crocodilos que viviam nessa ilha. 

A luta pelo Arakan continuaria até Maio de 1945, onde os remanescentes das duas divisões japonesas se renderiam para os aliados.


A Operação Capital Extendido - A Libertação da Birmânia (1944-1945):

Coluna blindada aliada avançando com rapidez pelas planícies centrais da Birmânia.

Ao mesmo tempo em que ocorria a luta pelo Arakan, o exército anglo-indiano iniciava sua campanha para finalmente expulsar os japoneses da Birmânia. Em Dezembro de 1944, tropas aliadas atravessaram o Rio Chindwin e capturaram a Planície de Shwebo contra pouca resistência.

Em Janeiro de 1945, os aliados atravessaram o mais largo rio de toda a guerra: o Irrawaddy. Encontrando pouquíssima resistência japonesa, os aliados atacaram a fortaleza de Mandalay e a central de comunicações em Meiktila. Em ambos os lugares, os japoneses ofereceram uma resistência fanática e com desesperados contra-ataques.

Em Março de 1945, os japoneses abandonaram Mandalay e partiram para recuperar Meiktila. Pelo resto do mês de Março, os japoneses lançaram brutais contra-ataques blindados para retomar Meiktila. Fracassaram em todos e perderam mais de 20.000 homens. Após esses fracassos, os japoneses começaram a recuar em massa para Rangoon, capital da Birmânia.

Em Maio de 1945, os japoneses foram surpreendidos por um desembarque anfíbio ao sul da capital e acabaram abandonando a cidade. Com a retirada dos japoneses para a Tailândia completada, a Birmânia estava finalmente livre do controle japonês, após a campanha mais difícil de toda a guerra.


Curiosidades:

  • A campanha da Birmânia foi a maior campanha terrestre da Guerra do Pacífico e onde ambos os lados sofreram as maiores perdas dessa frente de combate.

  • Logo após a derrota do Japão na Índia, a Tailândia retirou todas as suas tropas dos Estados Shan e se declarou uma nação neutra. O Japão até tentou invadir e subjugar o governo local, mas estava sem condições de abrir uma nova campanha com a situação da guerra pelo resto do Pacífico em 1944-45.

  • Combates aéreos foram pequenos e raros ao longo da campanha.

Bibliografia:

  •  Beevor, Antony. "A Segunda Guerra Mundial". Ed. Record. Rio de Janeiro, RJ, 2015.





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